Tiroteio em banco deixa 5 feridos e alguns vidros lascados
Sabe aquelas declarações do tipo: “Eu nunca passei por nada igual!”; “Achei que fosse morrer!”; “Eu acho que nasci de novo”; etc, bem pega-jornalista-trouxa? Pois então, bambinos. Quem me conhece (ou pensa que) sabe que o brega moment não se instaurou por completo na minha vida. Bastam as meias vermelhas que mami detesta de coração, ainda mais se combinadas com aquela camisetinha laranjada-oh-que-sol báásica. Uee.
Soltar tamanhas injustiças mesmo com a nossa já lascada, fodida e mal paga linguagem coloquial (mas deliciosa, quando se trata de xingar até a última geração o Dhomini, que réiva) seria contribuir com assassinos como Márcia Goldsmitch, Adriane Galisteu, Carla Peres e outras istudiosas de plantão, eu sei. Mas hoje eu digo: que cagaço. Apenas, então, somente, isso: que cagaço, meu Deus.
Também nunca fui muito afoita com a expressão “testemunha ocular”, talvez pela minha aflição com olhos e derivados, vai saber. Confesso, porém, que senti-me como tal, numa situação deveras tensa e emocionante, apesar do cagaço envolvido. Pela primeira vez em três dias, na história do jornalismo londrinense, a repórter dá seu breve relato daquilo que, por meros 10 minutos, seria apenas mais uma matéria a cobrir, não fosse o acaso. Veja o relato:
(tradução by National Geographic – com aquela locutora de sempre dublando)
(ah, claro: a entrevista será transmitida em cadeia nacional, no horário nobre. Negociamos com o SBT a veiculação no programa desse horário)
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(Clima tenso. A entrevistada, entre um riso nervoso e outro, movimentos catatônicos com a sobrancelha esquerda e a mão direita, olha pra trás e se abaixa)
“Eu tinha fome, sabe?, muita fome. Era duas da tarde, e, por Deus!, eu ainda não tinha comido nada. Resolvi conferir se minha encomenda havia chegado, então entrei naquela loja. Puxa, eu nunca imaginei aquilo em toda a minha vida! Por Deus, cara! Descendo da escada rolante, uma muvuca subia correndo pelo outro lado, gritando palavras desconexas. Aí eu desci, mas, por Deus!, que cena! Pessoas abaixadas, outras corriam, uma loucura. Foi a maior confusão que eu já vi na minha vida, de verdade. Uma moça, solidária com a minha cara de pateta, gritou um “ei você, se agacha!”. Passiva como carneirinho de presépio biodegradável, o que eu podia fazer? Abaixei, e, sabe aqueles soldadinhos à la Spielberg? Eu era uma, escondida sob a caixa, meu escudo fiel, até a primeira bala atravessá-la, claro”.
Bala? Como assim?
É, sabe bala de calibre 32, 22, 38? Eu não consegui distinguir pelo som, sabe, foi o barulho mais horrível que ouvi na minha vida, por Deus! E um cheiro terrível de pólvora, caaara, que cheiro ruim! Assim que vi se tratar de um tiroteio, puxa, eu, eu... eu achei que ia morrer e comecei a rezar. Eu sou jovem, gosto de estudar, lavar e passar roupa, limpo a orelha todos os dias, seria uma injustiça eu morrer ali, com uma bala sequer identificada.
Você viu o delinqüente?
Hahahaha, você deve estar louco! Eu só pensava na minha vida, aqueles minutos foram os mais longos, não deu tempo de ver o bandido, só a minha vida, desde a infância. Além dos comentários sobre a mãe dele (Bíti, se não me engano, era o nome dela), só ouvi que estava forrando a agência do Banco do Brasil ao lado de balas; caaara...
E como você se sente agora?
Puxa, é o maior alívio que eu já senti na vida, eu consegui escapar! Eu consegui, e tudo porque uso tênis da...
Alguma mensagem a quem está nos assistindo?
Olha, lutem pelos seus sonhos hoje, porque amanhã pode ser tarde. Eu acho que nasci de novo, e isso não foi por acaso. Eu precisava estar aqui, por Deus, que precisava!
(descem os créditos, com aquelas trilhas make me cry em BG, maestro)
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It’s all true. Menos o sensacionalismo, este que me acalenta na noite longa.
Repassado em tempo real, aliás, pelo celular que (milagrosamente) não acabou a bateria em mais um momento de grande emoção.
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Acho que preciso dum café, pra relaxar. Licença.
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random: Ten minutes – Get Up Kids
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