3.10.11

lejos, lejos

Os portais noticiam que a cúpula da emissora, numa reunião em Paris (sintomático), decide tirar o "humorista" da bancada do programa de TV que já teve o frescor de algo realmente novo e inovador. Repare como é fácil pensar que ambos são conceitos sinônimos. Pra mim, nunca foram.

O sujeito pode achar graça e fazer piada com as mulheres (as "feias", pelo menos) vítimas de estupro. Pode sugerir canibalismo ou pedofilia com o filho da cantora que é casada com o amigão do ex-astro de futebol. Pode desligar o telefone do repórter com um "eu só falo sobre o artigo (elogioso) do NY Times, é sobre isso?" (era sobre um inquérito, caro, que pena) ou sei lá, pode achar que os ataques contra casais gays na avenida Paulista são coisa de gente bipolar --afinal, não há limites pra piada que gente como ele se propõe a fazer, não é?

Dias atrás, numa conversa que --não me lembro como --enveredou para religião, a pessoa que falava comigo insistia no total livre-arbítrio do homem sobre o destino, sobre as "fortunas guardadas por séculos" pela Igreja católica e sobre o quão pedófilos ou tarados podem ser os padres de um modo geral. Graças a sabe a quê? Ao celibato.
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Você considerar que um humorista seja racista, preconceituoso ou apologista de atitudes criminosas (o que, pela lei, o torna tão criminoso quanto) logo faz levantar as armas dos que condenam a "patrulha ideológica", ou a "censura" --e gente que sequer ouviu, algum dia, um relato de quem de fato sofreu não só com a censura propriamente dita, mas com outras agruras mais doloridas de um regime ditatorial.

Dizer que uma religião é regida por homens e alimentada por algo tão subjetivo quanto a fé de cada um levanta um olhar de pena. Sugerir que o respeito entre os crentes e os incrédulos seria uma saída para uma pretensa (e ingênua, será?) harmonia, em vez de uma parte tentar convencer a outra com críticas pouco construtivas, soa como sintoma de idiotice. "Questão de convencer ou de questionar?", recebi. Tem pergunta que não carece mesmo de resposta.
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Talvez eu seja careta demais, simples demais nos meus pontos de vista ou, vai saber, ainda muito inconsistente neles pra afirmar, por A+B=C, por que confio demais ou rechaço por completo todos eles. Sabe aquela história da construção permanente? Minha crença é nisso. A vida é rica demais pra oferecer uma resposta pronta ou cheia de argumentos que comprovem uma tese única sobre cada aspecto dela.

E mesmo num tempo de liberdade como se propaga que é esse nosso, prefiro pensar que mesmo os tijolos de quem impõe a cor e a marca da argamassa são necessários e motivos pra eu agradecer. Aí sim é que nem precisa me convencer.
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