29.12.09

pelo sabor do gesto

O Natal em casa me chamou a atenção às pequenas iniciativas cada vez mais deixadas pra trás num mundo de facilidades – facilidades compráveis, claro. Me lembro de como era bom, no final de semana, tarde de sábado com Chacrinha rolando solto na TV, minha tia comprando umas bolachas de leite redondas, mas cheias de quadradinhos (que voltaram recentemente mas podiam sumir, junto com as Passatempo. Ugh.). Nas lembranças, me pego acompanhando meu avô lavando o carro, ou meu pai dando um trato na motoca.

A vó falava que o carro ainda enferrujaria, tamanho o cuidado semanal. Ocorre que meu avô tinha um oleozinho danado, em spray, cuja aplicabilidade até hoje desconheço, mas que obtinha a façanha de o conselho da esposa não se transformar em sentença.

Enferrujaram-se os hábitos, deram spray em outros, os tempos mudaram. O lava-jato dá conta da limpeza do veículo, mas não com aquele zelo do todo-mundo-querendo-ajudar – um com os tapetes, outro querendo lavar os pneus. No final da tarde, enxarcados, ainda tirávamos no par ou ímpar, eu e meu irmão, quem faria os serviços de secagem antes do banho e do passeio triunfal. Curioso é que sempre um ganhava (não conheço, ainda, outra possibilidade pro par ou ímpar), mas nenhum abria mão de sair flanela em punho pra tirar a última gota do capô. Pu-ra emoção.
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O supermercado oferece uma sem-gama de possibilidades pra ceia natalina. Na fila pro pão, vi pessoas desesperadas em busca de massas de preparo simples, desde que com um mínimo de planejamento. E olha que sou eu falando... Na contramão desse processo, a preocupação de minha mãe com algo feito por ela própria, da origem à embalagem de presente, me tirou um pouco do torpor. Assim como as horas investidas de limpeza do carango regadas a conversa com o vô amado.
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É um torpor estranho, esse; sazonal, mas com uma intensidade que ainda estou descobrindo, nesse final de ano - até pra saber se ele é um mal estar passageiro ou uma seta indicadora. Aquele mal estar de sentir tudo seguindo um ritmo impessoal, sistêmico, em que todo mundo é o 'querido' da vez agora, ou daqui a pouco – não importa: importante é dizer, travestido de certa cordialidade –, sendo o 'querido' seu conhecido ou seu melhor amigo de anos. Acho que enferrujei, ou não entrei ainda nessa engrenagem de facilidades não exatamente dispostas numa prateleira física, mas presentes no atacado com um mínimo de prática. E de estômago.
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A vida foi feita pra ser parida. Ela me faz movimentos de contrações, e eu entro nela.
O problema é a hora do parto: se estará, algum dia, plenamente pronto pra ele?
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Que o próximo ano venha sob medida. Sem pesos nos dois lados da balança, por mais incrédula que eu me sinta apostando nisso.
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Ambição - Rita Lee (versão Zélia Duncan)

15.12.09

ahn? onde? como? por quê? "Pra quê?"

Fim de ano aí, verão no bico (eu podia não lembrar desse detalhe...), balanços do que se fez e se deixou de fazer batendo na porta, enxeridos. Eu tento evitá-los, e esse ano o balanço seria um tanto, digamos, diferente - em vários sentidos. E nem tão diferente assim, em outros. Algumas capacidades minhas parecem infinitas. Só parecem, eu vou descobrindo aos poucos, movida ao canto e a fogo. A dias que valem muito a pena e a dias que, enfim, fazem-parte-do-calendário-e-pronto. Precisam existir, que se há de fazer?

Seria um balanço tão diferente que eu prefiro só pensar que 2009 vai acabar num estalar de dedos e 2010 vai ser um ano pra deixar muita, mas muita saudade. E dessa vez, não de mim.
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Love will tear us apart - The Parsonage

10.12.09

sem papel de presente

- a vida é movimento
"Quem pariu Mateus que o embale"
- a vida é movimento
"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"
- a vida é movimento
"Só se pode viver perto do outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor"
- a vida é movimento
"Nada pode o olvido / contra o sem sentido / apelo do não"
- a vida é movimento.
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Eu vejo Mateus ser embalado e o embalo. Cativo o que pode ser um fardo ou "um descanso na loucura" sobre minhas costas ou parado na garganta. Não tenho ódio, graças a Deus, porque alguma coisa ainda me faz crer que nem tudo nesse mundo cão está perdido. Quase perdido? Vai saber - pro totalmente, faltam algumas léguas das quais quero outras de distância. Acredito mais (ou menos) do que deveria acreditar, duvido menos (ou mais) do que deveria duvidar, entendo cada vez menos (ou mais) de livre-arbítrio de cima de um muro a despencar e corro, porque é em movimento que eu quero ser, também, espectadora dessa descoberta caoticamente organizada a se embalar.
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Mais alguém - Roberta Sá

8.12.09

apud cá dentro

Passei a desconfiar de certos chavões. Desconfiança que pode ou não ser sinônimo de incredulidade.

Chavões como o do "quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece". Troquei os verbos. Vi que o chavão pode, sim, fazer todo o sentido.

Passei a desconfiar também de algumas citações que antes, pra mim, não passavam mesmo de citações literárias – lindas, mas próximas demais, talvez, de um dia a dia tão do outro. Um outro lírico, distante do meu cotidiano do, muitas vezes, um-dia-depois-do-outro. O dia a dia das contagens regressivas, dos abraços perdidos e das saudades martelantes.

Citações de Sartre, tentando delimitar um pouco do inferno que há na terra; citações de Guimarães que me tocaram pra sempre, quando li, num chão de museu, que "qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura".
(...)
Sinônimo, não: a desconfiança é o antônimo.
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29 - Legião

16.11.09

em progressão geométrica

Hoje eu pensei nas contagens regressivas, no quanto já fiz uso delas e o quanto me instigavam. Contagem regressiva pro aniversário e as puxadinhas de orelha que meu pai me dava, correspondentes aos "novos anos". Bobinha, achava que os (bem) mais velhos tinham orelhas maiores pela proporcionalidade de tantos puxõezinhos festivos.

Contagem regressiva pro Natal. Eu e meu irmão deixávamos um par de calçados na beira da árvore, na sala, pra no dia seguinte, cedinho, correr lá ver o que o Santa tinha deixado pra gente. Morria de medo de deitar tarde (é, isso faz tempo) e ouvir os passos do dito cujo chegando. E nem chaminé eu tinha.

Contagem regressiva pras férias de fim de ano. Criança/adolescente é mesmo um bicho estranho: passava o ano todo se lamuriando das provas, torcendo pra julho e dezembro chegarem, fazia a tal contagem, mas aí chegava as férias e era um chororô danado das amigas que se separavam aquela enormidaaaade de tempo.

Contagem regressiva pras férias celetistas. Aleluia, irmãos.
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Hoje, algumas contagens regressivas são verdadeiras portas pro desconhecido, certas vezes, ou minas d'água sob o sol a pino, noutras. Instigam, mas sem a ingenuidade de outrora. É algo meio sem nome, meio sentido, meio vivido, meio sonhado. Com os dois pés bem fincados no chão, é verdade. Sem areia.
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As minhas contagens são regressivas. Vi uma série de reportagens na TV, esses dias, sobre pessoas desaparecidas, e tentei, por alguns minutos, me colocar na pele daqueles que esperam daquela forma - naquela contagem progressiva infame e corrosiva, a fórceps, revestida de esperança. A mãe adotiva que viu a filha de 16 anos sumir, ficou doente, fez a mastectomia e descobriu, meses depois, que a filha não estava morta: havia fugido com um rapaz. Descoberta seca, ao telefone, misturada a alegria e tristeza. Acho que nunca mais vou esquecer as olheiras daquela mulher: "Quando eu mais precisei dela, ela não estava lá. E eu dei tanto carinho..."

Outra mãe - essa que foi uma das mais emblemáticas na série - esperou, esperou, mas a filha não voltou. Viva, é verdade: haviam feito maldade à pequena dela, encontrada num desses terrenos baldios onde jazem as vítimas de famílias açoitadas de realidade. A mãe fundou uma associação pra ajudar outras famílias na busca de seus desaparecidos e disse uma coisa tão bonita: "É como se eu encontrasse minha filha em cada reencontro que acontece. Os reencontros são sublimes."
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Por um instante, o tempo pára.
Sublime.
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Haja o que houver - Mylene (canta Madredeus)

6.11.09

quente e frio

O moço na fila do restaurante, ontem à noite, me alertou: "Cuidado, moça. Essa colher tá quente. Se for se servir, pega com cuidado". Os borrachudos que atacaram a mesma mão direita (e pernas, braços, cotovelos...) horas antes, em frente à unidade prisional onde cumpria a pauta, não tiveram o mesmo zelo comigo. Mão gorda, mão gorda.
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É curioso como algumas pessoas tentam esconder fatos criando outros. Ontem, agente público preso sendo solto, um sujeito passa à frente de equipes de reportagem, dando rasteira e recebendo o apoio do irmão do ex-detento (que pedia pro carro seguir "reto", ou seja, à nossa frente), xinga Deus e o mundo. Em cinco anos e pouco de cobertura política, confesso que certas coisas ainda me assustam. O ser humano sempre é surpreendente, não tem jeito – e talvez o dia em que eu deixar de pensar assim, imagino, será pra mim uma constatação surpreendentemente triste.
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Cheguei à minha mesa desordenada, no fim do dia, e havia uma caixa bonita com um bilhete em cima: agradecimentos pelo retorno do "membro querido da família" (sim, o tal sujeito que eu acabara de ver saindo sob escolta da claque) e, dentro dela, três fatias de (pizza? Não,) bolo. Bolo de aniversário. Amigos e colegas haviam comemorado à tarde os três aniversários da semana, na gentileza de um companheirão de anos de casa. Comemoraram também o trote do ano. Pata, patinha.
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A colher quente, o bolo guardado (três fatias; olha a pujança), a articulação de alguns vários só pela reação à pegadinha e a frase que encerraria minha noite, de fato, antes daquela do moço no restaurante: "só se oferece aquilo que se tem".
Surpreendentemente simples, é verdade.
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Tempos Modernos - Lulu Santos

21.10.09

chove mais, vai, duvido que chove mais

Choveu tanto, mas tanto que a Câmara de Vereadores rachou, o Fórum recém inaugurado rachou, a calçada do prédio onde moro estourou. Mais um pouco e sai a Caverna do Dragão inteira lá de dentro.

Eu não aguento mais falar de chuva, ouvir falar de chuva, pautar ou ler matérias sobre chuva. Adorei o solzinho mequetrefe que saiu hoje, mas os raios que ouço agora, ao longe, e a ameaça de novo corte repentino de energia me dão aqui no íntimo uma ponta de desgosto do assunto de amanhã cedo. Ah, que sandice essa de São Pedro. Que chatice a minha. Ah, pôxa.

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Foram-se as rugas da testa, percebi, pra se formar um princípio de tique nervoso nas pernas. Já avisei pra ele que, se não parar de pular, para na marra: correria todo dia, em vez de alternadas três vezes na semana (haha). Falta só eu me dividir por mitose (isso aí), ajustar o sono do miserável início do horário de verão em dia e bye pro marvado (o sono acumulado; infelizmente, não o horário de verão). Venço ele na fraqueza! Entendeu? Nem eu.

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Contagem mais que regressiva. Aliás, duas delas. Entendeu? Eu vivo isso.

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Battleships - Travis

16.10.09

olha como a tarefa dela é bonita

Não fosse pelo informativo da assessoria da universidade, nem lembraria mais que o Dia do Professor, nas instituições, é comemorado com um singelo recesso. Pra mim ficaram mesmo a data e os nomes todos que ela me remete - alguns mais, outros menos detidamente na memória.

Engraçado como a gente chamava as professoras de tia fulana, tia sicrana, há 20 e tantos anos (meu Deus...), e isso não soava desrespeitoso. Hoje, é tudo mais impessoal. Também não vislumbro como seria diferente, confesso.

Lembro da tia Marilena, minha professora da primeira série que usava de uma artimanha toda dela pra aplacar meu choro dos primeiros dias de aula: elogiava minha letra. "Olha como a letra dela é boniiita!", e mostrava pros coleguinhas do lado, cúmplices no pequeno golpe que contava, ainda, com a posse da chave da cópia da chave do carro da minha mãe, que trabalhava no colégio. O bacana dessa fase (pras mães) é que criança não difere muito chave original de cópia.

Nunca me esqueço da tia Ercília, professora da pré-história do meu currículo escolar, antigo parquinho. Não sei se a nomenclatura existe ainda, "parquinho", antes do "prézinho"; só sei que tia Ercília misturava qualidades de educadora e de quem, durante toda uma tarde, ainda cuidava de uma filha (e de tantos outros) que não era a dela: tinha um carinho singelo, zeloso, discreto. E marcante, pra sempre. Quando fiz 6 anos, naquele novembro de 86, ela me chamou num cantinho da sala, enquanto a turma se esbaldava nos brinquedos do parque, e me deu um abraço de felicidades. Nas mãos, tinha a fabulosa "lousa mágica", febrinha da criançada que podia, e que, dias antes, ela tinha de aniversário dado a outro aluno da sala - sobrinho e afilhado dela.

Anos atrás minha mãe me deu a notícia da morte abrupta de tia Ercília, causada por um câncer aparentemente raro e muito difícil, portanto, de tratar. Até hoje - acho que lá se vão uns seis, sete anos, já - me lembro dela também nas orações em que penso na familiarada que se foi, nos amigos da família, nos parentes queridos dos amigos queridos.

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Viva em carne, osso e mais um monte de mecanismo de sustentação que, graças a Deus, ela exibe hoje, minha mãe foi a felicitada da data. Foi a depositária do que eu gostaria de ter dito à tia Ercília, a tantas outras 'tias' e ótimos mestres que tive, adolescente e adulta, e dos tantos exemplos que tive em casa, uma casa de professores. Foi Gláucia quem me alfabetizou e quem me mostra que as lições de superação são pra uma vida inteira: não param no parquinho, numa sala de diagnósticos médicos e muito menos nas esquinas dessa vida.
E isso não tem lousa capaz de apagar.

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Sobre o amor e seu trabalho silencioso - Céu

8.10.09

teoria prática da relatividade

. uma pilha de coisas.
.duas pilhas pra carregar pra amanhã cedo.
. clarice tirando novamente meu sono com a maestria de sempre no que de mais denso há nessa coisa rasa chamada ser humano.
."Um bocejo tinha que atrapalhar".
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sete horas me separam de uns instantes de liberdade fabricada, mas a minha, numa co-parceria sem prazo de validade que me apraz e acalma. fabricada sem cartão-ponto, sem pressa no trânsito que enerva e relembra, fabricada sem a vontade de mandar tudo àquele lugar enquanto preparo minha nave pro espaço.
. que vontade de chutar um pé de mesa bem forte.
[...]
[...]
[...]

passou.
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Florindo - Mariana Aydar

29.9.09

trate como um neném

Take 1 - o carro capota. É rodovia, não chove (acabara fazia pouco), mas faz um céu cinza de doer os olhos, e, num ziguezague de pista ribanceira abaixo, lembrando (sabe Deus como) aquele jogo do Atari, ela vê o veículo se entrelaçar com os demais. Baita capote; ainda dá tempo de pensar nos ossos. Só que é tudo tão rápido que logo o carro volta pra pista e, mesmo meio amassado, continua o trajeto de volta pra casa.
E dentro do carro, ela a assiste tudo, só que do lado de fora. Abismada e sem surpresa.
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Take 2 - o amigo morre. Não o amigo: o melhor amigo. Logo vem o nó na garganta, a sensação de solidão potencializada por saber que, por Deus, quem mais entenderia aquilo sem chamar de judiêra, sem fazer troça ou sem pseudo-filosofar sobre o mal do homem moderno? Só ele compreendia o tamanhão daquele nó. Mas agora acabou, se transformara numa lembrança, como a vida até aqui. Só que tudo é tão rápido que de repente ele aparece na frente dela, com aquele sorriso cúmplice, e fala: "meu bem, isso é um sonho", assim, dentro do. Ele segue no trajeto, seguimos. Abismada e aliviada, volto ao travesseiro.
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Quando eu era criança acreditei em Papai Noel e coelho da Páscoa. Assisti Xuxa, também, confesso. Hoje gosto de Bob Sponja e ouço gírias que remetem a ele, no bom e no mau sentido. Descobri que é bom e péssimo ser Bob Sponja. É tão rápida a diferença, e aparentemente tão besta, mas ela faz é toda, a diferença.
[Agora indiferente, constato que é melhor eu comprar logo minhas passagens e lembrar do que realmente vale a pena]
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Chá verde - Tiê

16.9.09

Suitsweet

Olhei a foto ampliada e fechei o olhos por um instante. Me vieram, na hora, os semblantes daquela gente aguardando pelo retorno de uma aeronave que não retornaria (não naquele momento), mas que, ao contrário, daria lentamente uma meia longa volta para acenar com a decolagem, rápida, sem tempo pro pensamento deixar a segunda lágrima cair. Pra muitos ali, senti, tanta agilidade do PR-VBI de pouco ou nada adiantou.
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Um pedaço ampliado de foto, uma parte de um vácuo que o coração, assim como os olhos daquelas pessoas, vai ter que ser ágil em corrigir. A decolagem é rápida, ao contrário das horas mais simples ou das mais ordinárias do dia. Muita coisa se amplia no vácuo, aprendi um dia, faz tempo.
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Entre imagens de sonho e de alguma doce fugacidade, de fundo, uma voz me faz um pedido. Então, eu abro os olhos de novo.

[abro pra constatar também, depois de cinco horas de uma espera insana madrugada adentro, que SUS e plano de saúde, quando mais se precisa deste, podem ser a mesma droga. O que muda é o pagamento em duplicidade]

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Dois - Tiê

1.9.09

i used to say

Preocupações tão comuns em vidas aparentemente tão esparsas nos fazem ver que tudo não passa de uma caixinha onde, volta e meia, uma mexidinha de leve mostra que os cantinhos estão ali, menos distantes do que se imagina. E é tão bom perceber isso de vez em quando que é tão bom que..... Puxa.
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Couve, laranja, morango, maçã, um pedacinho de cenoura e uma adoçadinha de leve, com mel, tudo muito bem coado. Sempre achei que sucos com folhas eram sucos de saladas; foi esse o gosto sentido numa primeira e longínqua vez - não com esses ingredientes -; foi esse o gosto que foi pro espaço na conversa com um amigo inteligente (também) pras coisas da terra, e, de vez, na tarefa noturna com o liquidificador. Redescobri o prazer de cozinhar pra mim, ainda que o suco não compreenda, obviamente, o duo panela/fogão.
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No hospital, a enfermeira me perguntou se eu era irmã da amiga que eu fora buscar, recém-saída de um pequena cirurgia da qual morro de aflição, morro. Ela, um dos meus anjos da guarda dias atrás, era agora quem precisava da minha ajuda, nem que fosse praquele abraço ou pra levá-la pro aconchego dos filhos. Tão simples, mas uma sensação tão grande do "isso não tem preço" me tirou, voluntária um involuntariamente, alguns sorrisos no caminho de volta. O longo caminho da volta pra casa.
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Um trecho daquela música de antigamente, sugerido delicadamente, pra eu meu lembrar durante toda a semana.
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No telefone, a constatação besta do outro lado de que eu estava pasma por sem sentir assim: bem besta. No sentido mais desnudo da palavra.
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Um e-mail em que desponta um filetezinho da lanterna que pensava escondida nos recônditos do marasmo. Bem verdade que a lanterna eu achei; tô trocando as pilhas gastas da danada.
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Fôlego pra mais alguns quilômetros de corrida nos próximos dias.
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E tudo segue rumo à Primavera, a estação mais bonita do ano e na qual que os dias começam a despontar cada vez mais cedo. Que assim seja.
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5 Discos - Fernanda Takai

25.8.09

e assim foi

"A boca fala daquilo de que o coração está cheio", ela nos disse, citando o texto bíblico. Em seguida, pediu que cada um fizesse conchinhas com as mãos e olhasse, naquele espaço imaginário e, ao mesmo tempo, muito real a cada um, o próprio coração. De que cor estava? Do que estava se nutrindo, e o que estava disseminando? Era vermelho-vivo, ou "rosa apagadinho"?

O próximo passo, depois da reflexão, seria elencar ao menos um motivo pra dar um louvor, que fosse, a Deus. Me impressionei com a fluidez com que as palavras brotavam daqueles sujeitos mais quietinhos e tímidos até nos gestos. Graças por pessoas amadas em lugares muito, muito distantes, mas saudáveis; por provações superadas aqui e acolá; por vidas postas à prova por doenças e reconstruídas depois de muita fé. Por gente que se sentiu ungida porque, enfim, teve a sensação de que algo ou alguém não desistiu dele, ou dela.

Minha família, pelo menos o chamado 'núcleo duro' dela, está uns 200 quilômetros de distância de mim a maior parte da minha vida de adulta, todos os dias. Basta saber que existe e essa distância, por um instante, aplaca parte da saudade. Acho que é mal de português esse sentimento, não é possível...

(Ou é a gripe, ou eu ando muito besta esses dias. Que seja assim. A caixa do lápis de cor do meu coração é minha, ora, ora!)

Pensei nos meus amigos, os que cabem numa mão, mas que são essenciais. Pequenos anjos na minha travessia, e que, mesmo sem o laço de sangue, são motivos enormes pra eu ter, sim, louvores imensos pela vida minha, e a deles. Podem vir com ou sem sacos gigantes de gengibre nos dias de gripe; ouvidos e conselhos lúcidos nos momentos de angústia; braços e olhares fraternos nos de alegria - também usam o telefone pra eu parar um pouco o tempo enquanto ouço suas vozes; mandam pequenas mensagens eletrônicas pra saber que estou viva e que estão vivos e cartas coloridas pra eu sempre remexer nas caixinhas de 'lembranças que aquecem o coração'.

Enfim, meu coração está cheio do que esse povo todo semeia, de perto e de longe, de casa ou da casa. N'A Palavra, busco o combustível que faz deles seres essenciais e que troca, vez ou outra, minha caixa de lápis de cor por uma aquarela vistosa só em tons de vermelho-coração-pulsante.

Pequenas cápsulas de bem-estar/esperança diário.
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Reprise - Ludov

22.8.09

congestionamento

Pessoas apressadas correm à margem do lago com expectativas físicas e emocionais. Olhada rápida no relógio-cronômetro, um jeitinho pra arrumar o fone no ouvido e pernas pro desconhecido que fica. E elas passam.

Pessoas sentadinhas, sem pressa, sem pressa, celebram a algo numa mesa enorme, média etária dos 70 anos quebrada por dois garotinhos duns oito, dez anos, no máximo, junto delas. Todas enfeitadinhas e emprumadinhas, a expectativa de vida ali é ampla. O prato principal? Mousse de maracujá com chocolate.

Na contramão dos apressados e das celebrantes, lembro das palavras daquela senhora num esforço sincero de evocar à representação de algo que só eu compreendo, ou tente compreender. E a cada vez que eu tento, as portas me mostram que o caminho com pernas pro desconhecido é longo, longo. Sempre me falaram do poder das palavras - com a capacidade que têm de também construir, embasar e desconstruir teias humanas -; às vezes me sinto refém delas. Leio coisas que já escrevi e penso no latifúndio de bobagens em que já acreditei. Leio as palavras de hoje e penso em seguir aquele conselho de quinta-feira à noite: "tem outro nome. Não existe. O que existe é o que há", simples assim, óbvio, talvez, só pra mim. Por isso que hoje eu abdico de me tornar ferida alheia, ou, pelo menos (e é só isso que me importa agora), de alimentar as minhas. Agora 'Cuidado' vem em placas de alerta, e nesse fluxo confuso eu não me perco mais. Meus olhos não deixam.

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"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos".
(Pessoa)
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In my life - Beatles

18.8.09

memória

Na infância e adolescência, na contramão do restante da sala, eu sempre gostava das aulas de gramática - mas me deliciava mesmo era com as de interpretação de texto. Seria capaz de ficar horas escrevendo numa prova de interpretação não fosse o relógio; não é à toa que eu era sempre a última a deixar a sala. Assim foi no vestibular, assim foi na faculdade, assim acontece nas duas redações em que trabalho (ok, ok, o que nem sempre é bom, admito).

Nunca esqueço quando a professora de Literatura do terceiro ano, o derradeiro, dona Henriqueta - voz baixinha e constante, uma quarentona bem resolvida em nome de senhorinha -, nos apresentou a interpretação da "pedra no caminho" no Drummond. Lembro que pra muita gente aquela repetição de palavras e colocações soava enfadonha, e pior: sem sentido. Até que a dona Henriqueta pediu que substituíssemos "pedra" por "vestibular" (naquele ano-véspera decisivo e filho da mãe), e a coisa ficou mais clara.

Fico pensando hoje pros sinônimos dessa pedra. Podia ser a tosse dos últimos dias, acalmada de duas em duas horas com uma pastilha porreta que adormece a língua (meu Deus...); podia ser tanta coisa, abstrata, humana, caótica ou não. Dor nas costas. Chuva inconstante. Gastrite. Silêncio. Memória afetiva. Distância de quem de fato nos ama, e vice-versa. Enfim, tanta palavra pra caber nesse espacinho da pedra...

A boniteza nessa aridez é perceber que se pode ver na vida uma espécie de poema que se vai construindo aqui, ali. Tem dias que as peças não se encaixam, noutros, só peças como essas que eu elenquei, em outros mais, o poema simplesmente muda e permite novas colocações e rimas. Tirando a pedra, imagino, se encontra o caminho até o jardim. Até que eles passarão/e eu passarinho. Tanta coisa pra trocar, tanta. Mas mesmo com a sensação de rampa acima que eu relatei pro amigo querido, dia desses - sabe o mito do sujeito que rola a pedra tudavida, tudavida? É o Sísifo, coitado -, algo me diz que é rampa acima a seta indicadora, não tem mais jeito. É essa a interpretação que eu quero ter, agora, é ela que me cabe. Até pra não cair na armadilha de pensar em outros poemas do Drummond pros quais eu já tive sinônimos, mas hoje, só quero antônimos. Pelo menos até a próxima interpretação...

* * *
Molho obrigatório com picles Trimedal, sem salada, sem queijo branco e uma sensação de surra no pau de arara sem pão de gergelim. Uma pastilha alucinógena pra quem adivinhar o que é isso.
Porque yo só vou saber amanhã.
* * *
Liberdade - Marcelo Camelo

16.8.09

veja você

Diante do argumento da pouca grana, me rendi ao do "a vida é curta", de uma vez só lançado pela amiga, e desencanei. "Horas que bem que podiam durar dias", pensei, no meio do semi-transe provocado pela música e pelo saquê adocicado com a mistura de frutas tropicais no ambiente fechado e pouco ventilado, lindo pra uma mini-pandemia. Que beleza, agora, pastel de feira e muitas risadas depois, ter percebido que esta e outras (tantas) neuras ficaram da porta pra fora. Da porta pra dentro, só o Jackson Six alucinado e os neo Emos providenciados no celular tiveram vez, hehe.
Apesar da pedreira, eu si divirtu.
(Mais que ocasião, hoje isso virou uma necessidade)
*
Conversa de botas batidas - Los Hermanos

13.8.09

angúsvida


Depois de tanto ouvir falar do mito de Sísifo e de ver que a pedra, antes só empurrada morro acima, agora tenta me esmagar (incrível como o corpo às vezes custa a reagir a essas ameaças), vou vendo alguns sinais difusos tentando tirar as lasquinhas dessa montanha.

Brasília?

31.7.09

The passarinhos contra a gripe

Engraçado: o povão morre de medo da gripe suína (conheço um político que tem a do tipo "equina", quase uma BRONCO-pneumonia), é dispensado de aulas nas universidades e nas escolas e não pensa duas vezes em fazer um brinde à quinta-feira nos bares lotados perto de casa. Shopping, idem. Os coletivos continuam abarrotados, ninguém de máscara. Vejo na TV que cinco estados já suspenderam o ano letivo; antes, o colega de rádio me contou numa risada maliciosa: não aguenta mais os pais ligando na rádiA reclamando da medida. Agora que a molecada tava voltando das férias, pôssa?!
*
Por falar em máscara, hoje eu recebi uma, no trabalho, e fiquei sem saber o que fazer: devolver é feio, usar em coletiva, pior ainda. Tá na bolsa, protegendo minhas tralhas do H1N1. Pensei que, puxa!, podia ter recebido na véspera, quando descia do décimo andar no elevador de um prédio comercial perto do jornal. Duas moças de uns 30 e poucos anos e um senhor duns 50 junto. A tosse que me acompanha há uns dias veio de leve - o suficiente pra que uma delas me olhasse como se eu tivesse um chifre de unicórnio da testa; olhar sutil, o dela. Já o homem, mui disfarçadamente, deu um jeitinho de simular um longo bocejo; tão longo que ele protegeu nariz e boca até o térreo. Juro: torci pra espirrar, bem forte.

*
Um chuveiro é um chuveiro? Não, um chuveiro é algo que faz você esquecer das pequenas - e muito importantes - coisas da vida. Fica sem, pra ver. Volta a ter, pra rir.
*
O cérebro deveria ter um vasodilatador pras ideias futuras em dias estressantes. Por exemplo, eu adoraria vasodilatar pro espaço a lembrança dos próximos finais de semana sem arrego proletário (multiplicada pela semana deliciosa que termina, graçazadeuzamém) e puxar pra perto só a lembrança da volta pra casa, breve-breve (quero muito mentalizar isso. Casa, breve, breve-breve, breve-breve). Quem disse que é assim, né?
*
I came all this way - The Thrills

28.7.09

por quê? / pra quê?

"ignorante"
"página de papel rasgada a ser recomposta"
Duas fantásticas expressões da série "Como começar seu dia na lama e terminá-lo na penumbra da dúvida". Adquira as suas você também! Kits promocionais delivery.
ps.: não entrego nem a pau.

*
Choveu tanto, mas ta(aaa)nto, que, além das piadinhas bolorentas, estão de lascar também - literalmente, perdão o trocadilho - algumas ruas no centro, que chegaram ao paralelepípedo. De verdade: se vê o miolinho delas. Em outras, nas manhãs de neblina intensa, cena chatinha ver o pessoal passando em buraco cheio de água suja, em frente a ponto de ônibus, molhando o cidadão que aguarda piano pra ir ao trabalho, à escola. Presenciei três dessas, em menos de 24 horas.

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Ainda no trânsito, algumas vezes eu me divirto, outras (muito mais, é verdade) me irrito bem com a capacidade do serumano aprontar aquilo que se vê nos estábulos da exposição rural, de forma mui caprichosa na forma e quantidade, mas sobre duas pernas. Gentilezas, ou, a bem da verdade, obrigações, são raríssimas. Uma das avenidas mais movimentadas daqui, por exemplo, famosa pela concentração de hospitais e clínicas, está famosa também pelos atropelamentos de gente que acabou de sair de consulta - em geral, idosos e mulheres com crianças. 'Paciente', esse pessoal buzina - não, não tem placa dizendo que é área hospitalar - e aproveita ass lombadas pra acelerar, pedindo pressa. Coisa boa, essa lombada.

Hoje, distante dali, enquanto contornava uma rotatória - e não é possível que essa regra já tenha mudado, pensei -, o sujeito da outra mão entrou com tudo, sem sequer olhar pro lado; braço de fora. Diante da reação, deve ter elogiado bastante toda a geração de progenitoras da família, mas fiquei intrigada com a cara dele, algo na linha: "o quêêêêêê, uma mulher reclamando? Se toca!", pra ser sôper fiel às expressões coloquiais. hehe. Dois dedos nos olhos, dois dedos pra ele, se liga, malandro. Es nosotro en DVD. Ali também não tinha placa de área hospitalar...

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"Tava com 1800, agora, 4000 leucócitos. Vai dar."
Antes do dia acabar -porque o meu só acaba quando aciono os três despertadores -, uma expressão começa uma série nova que, ainda que eu desconheça por ora o nome, desfaz boa parte daquela penumbra da série velha. Oh, God, obrigada.
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Sometimes - My Bloody Valentine

26.7.09

o quê?

Andávamos, e eu procurava aquele doce que não sabia bem qual era, mas que era importante. De repente, naquele mercado enorme, as prateleiras surgiam complemente vazias, com o branco do metal à mostra e uma interrogação, misturada a agonia, se formando pelo ponteiro do relógio correndo contra mim - a caixa me esperava, você olhava pra minha cara com jeito de "não sei o que é isso", e eu desisti de procurar.

Curioso é que tive de pagar a conta pra moça do caixa.
Faz todo o sentido.

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Parece simples colocar na categoria de "artefatos inexistentes" aquilo que se quer deixar pra trás. Se fosse assim, não haveria tantas clínicas de terapia por aí, e tanta gente mal resolvida mundo afora. A prateleira pode até estar vazia, mas nem por isso o mercado deixa de existir.

E há artigo suficiente pra se buscar, além daquele doce que, nossa, existiu e foi bom. E ponto.

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Tenho aprendido a encarar certas situações da vida sob um outro ângulo, não sei se equivocado ou não - o tempo vai dizer; as novas experiências, consolidá-lo ou não. Parei de me fazer perguntas, porque seriam muitas respostas não encontradas, muita revolta reprimida a me fazer mal, ou muita lágrima chata a me perturbar o sono. Ou melhor: passei a fazer outras perguntas, essas, sim, com um sentido pra existirem e se desdobrarem em respostas que vão me trazer algo bom.

Grosso modo, é como andar na feira, domingo de manhã, sentindo todos os aromas, sem me preocupar com o porquê de aquelas pessoas andarem devagar, quase parando, enquanto outras querem passar, e sem dar a mínima do porquê de minha mesa ter de ficar bela com o ramalhete que estou levando dessa vez. Eu a quero assim, e constatar isso, depois de tanto tempo, não apaga nada, nada - eu não seria tão imatura de passar um errorex na vida -, mas é um baita alívio.

[Pisar no ramalhete antigo não faz do novo mais atraente, não no meu caso]

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Un dernier verre (Pour la Route) - Beirut

22.7.09

mouse pad

Quem me conhece sabe que noção de localização não é lá meu forte. Dizem que, por questões biológicas, isso é algo que acomete a mulherada de uma forma geral, mas conheço muita gente sem pipi que se vira muito bem quando a pergunta do auto-lead é o 'onde?'. Enfim.

Numa passada de três dias pelo Rio de Janeiro, na última vez que fui pra lá, eu e uma amiga demos umas três voltas no Leblon até descobrirmos que o trecho percorrido era o mesmo do início - nas três vezes. No ano seguinte, sozinha, no Ibirapuera, cheguei a ter uma nesga de credulidade na existência de dois obeliscos, mas a ficha caiu. Debaixo de muito sol, longos minutos depois, mas caiu: consegui me perder lá também.

Celular esquecido, hoje, e resgate noturno com toques de "vamos ver no que dá essa merda". Mudei completamente o trajeto e fui parar num local ermo, sem uma viva alma a me dizer que pedaço de Londrina era aquele. Num botequim vários quarteirões adiante onde garotos bebiam, a resposta: "Só subir à esquerda e virar à esquerda de novo, tudavida". Continuei andando sem saber onde ia dar (impressão, ou o breu aumenta quando se está perdido?), mas, gozado, sem receio. Sabia que mesmo que demorasse, ia me safar daquela bobagem a tempo, ao menos, de a luz da reserva não piscar.

(Sensação tão diferente daquela dos 5 anos, quando me perdia no supermercado. Achava que nunca mais ia passar.)

Como no Rio, o desvio de rota de hoje acabou me deixando somente algumas quadras adiante do local de onde eu nunca havia saído, mas que achava ter atravessado duas zonas distintas da cidade. Rodar, rodar, e cair no mesmo local. Isso soaria familiar, não fosse a leveza que a vida vai trazendo, aos pouquinhos, daquela ideia de que uma hora a rua certa pra virar à esquerda, ou à direita, vai aparecer diante dos olhos, caso não se estaque no meio do caminho. E o breu vai ser só mais um traço nebuloso de imaginação, cenográfico, quando se olha para quanta luz há em volta.
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Preciso de resistência nova. Eu, não: meu chuveiro.
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As prateleiras do sonho estavam vazias, completamente vazias.
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As horas de sono são tão importantes quanto uma resistência nova pra (ahá) "GorDucha". Assim, é só isso que quero agora em uma das prateleiras. Pras demais, eu vou pra outra pergunta do lead.

21.7.09

por exemplos

O dom com as mãos, herdado de gerações, mostra a ela que ainda há muito por fazer. Muito a que se agarrar. Muito a ofertar, porque há quem o receba. E nada no mundo pode apagar isso da memória, que é passado, mas também presente.

Minha mãe é uma mulher de fibra, e, se tenho muito ainda a aprender pelos anos da vida afora (30? 51? Menos ou mais de 100? Não importa), cara nas portas ou flores às mãos, creio que essa lição já aprendi. Venho aprendendo, desde que me entendo por gente . 'O vento pode até nos vergar, mas quebrar, não', insiste ela comigo. Eu tento, mãe - enquanto, do seu lado, sei que não desiste de mim.

E o mais bonito disso tudo é que aprendemos juntas, não importa os perrengues que uma ou outra estejam passando, ou tenham passado. Esse amor é eterno. E ao contrário do que o mundo tenta ensinar, dura ainda que o caminho seja espinhoso. Talvez por isso valha o nome.

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16.7.09

porque viver é sobre

Na mesa da frente, a família reunida em torno do jantar - as crianças puxaram à mãe, facilmente se percebe - me enche de dúvidas. Outras.
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Na cadeira da frente, palavras que me dissolvem certezas e me ajudam a transformar nós em pedaços rasgados de respostas, colados pequenininhos, até se formarem pequenas teias, quiçá retalhos, de um tecido com o qual quero me familiarizar.
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No trânsito, uns seguem sozinhos, outros embalados por cafunés. Sinto os olhos pesarem, mas não são as luzes depois de tantas horas ao computador: é um casal de vovozinhos tentando, a todo custo, empilhar as últimas peças de lixo reciclável na carriola que seria puxada (imagino) ainda por um bom tanto. Por um instante penso no quão relativas podem ser a solidão e o contrário dela.
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Precisar de cuidado nem sempre é o que parece. As formas de manifestação, por vezes, são tão (ou mais) importantes quanto o cuidado em si. Os olhos e ouvidos treinam pra que o coração não se engane. O coração treina pra não tropeçar em tanta buraqueira dessa vida, tampouco pra preencher essas frestas com betume: basta desviar das lacunas, enormes.
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Comprei meias de algodão pra minha mãe. Várias delas. Brancas, mas com um filetezinho de cor - uma diferente pra cada um dos oito pares. Peguei pra ver se eram felpudas de verdade ou felpudas inimigas da máquina de lavar; não era esse o caso. "É pra sua filha?", me perguntou a vendedora que teve de conferir o código de barras com outras meias, do tipo soquete (não eram aquelas que eu queria, muito superficiais pro frio). Respondi com um "não" encabulado, mas que me deu uma pontinha de calor humano por saber que "eu" sou a filha e que aquele não era fim, mas meio. Meio, não: eu diria que era uma das formas daquela manifestação tão abstrata, e, ao mesmo tempo, tão real ao coração. Na trilha certa, então, com sorte as lacunas passam bem ao longe.
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3 times and you lose - Travis

13.7.09

break

Planos de reativação minados por mais uma daquelas crises maravilhosas de enxaqueca que derrubam e fazem a gente pensar nas saudades dessa vida tosca.

Hoje me deu uma saudade sem tamanho da minha mãe. Saudades também de um tempo que passou, mas que custa a ter feridas cicatrizadas. Saudade de mim.

Londrina, 15 graus. Sensação térmica de 3, negativos.

11.7.09

sábado de chuva, chuva, chuva

Pensando em reativar isso aqui.
Tô reativando minha vida, por que não também o blog?