31.7.09

The passarinhos contra a gripe

Engraçado: o povão morre de medo da gripe suína (conheço um político que tem a do tipo "equina", quase uma BRONCO-pneumonia), é dispensado de aulas nas universidades e nas escolas e não pensa duas vezes em fazer um brinde à quinta-feira nos bares lotados perto de casa. Shopping, idem. Os coletivos continuam abarrotados, ninguém de máscara. Vejo na TV que cinco estados já suspenderam o ano letivo; antes, o colega de rádio me contou numa risada maliciosa: não aguenta mais os pais ligando na rádiA reclamando da medida. Agora que a molecada tava voltando das férias, pôssa?!
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Por falar em máscara, hoje eu recebi uma, no trabalho, e fiquei sem saber o que fazer: devolver é feio, usar em coletiva, pior ainda. Tá na bolsa, protegendo minhas tralhas do H1N1. Pensei que, puxa!, podia ter recebido na véspera, quando descia do décimo andar no elevador de um prédio comercial perto do jornal. Duas moças de uns 30 e poucos anos e um senhor duns 50 junto. A tosse que me acompanha há uns dias veio de leve - o suficiente pra que uma delas me olhasse como se eu tivesse um chifre de unicórnio da testa; olhar sutil, o dela. Já o homem, mui disfarçadamente, deu um jeitinho de simular um longo bocejo; tão longo que ele protegeu nariz e boca até o térreo. Juro: torci pra espirrar, bem forte.

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Um chuveiro é um chuveiro? Não, um chuveiro é algo que faz você esquecer das pequenas - e muito importantes - coisas da vida. Fica sem, pra ver. Volta a ter, pra rir.
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O cérebro deveria ter um vasodilatador pras ideias futuras em dias estressantes. Por exemplo, eu adoraria vasodilatar pro espaço a lembrança dos próximos finais de semana sem arrego proletário (multiplicada pela semana deliciosa que termina, graçazadeuzamém) e puxar pra perto só a lembrança da volta pra casa, breve-breve (quero muito mentalizar isso. Casa, breve, breve-breve, breve-breve). Quem disse que é assim, né?
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I came all this way - The Thrills

28.7.09

por quê? / pra quê?

"ignorante"
"página de papel rasgada a ser recomposta"
Duas fantásticas expressões da série "Como começar seu dia na lama e terminá-lo na penumbra da dúvida". Adquira as suas você também! Kits promocionais delivery.
ps.: não entrego nem a pau.

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Choveu tanto, mas ta(aaa)nto, que, além das piadinhas bolorentas, estão de lascar também - literalmente, perdão o trocadilho - algumas ruas no centro, que chegaram ao paralelepípedo. De verdade: se vê o miolinho delas. Em outras, nas manhãs de neblina intensa, cena chatinha ver o pessoal passando em buraco cheio de água suja, em frente a ponto de ônibus, molhando o cidadão que aguarda piano pra ir ao trabalho, à escola. Presenciei três dessas, em menos de 24 horas.

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Ainda no trânsito, algumas vezes eu me divirto, outras (muito mais, é verdade) me irrito bem com a capacidade do serumano aprontar aquilo que se vê nos estábulos da exposição rural, de forma mui caprichosa na forma e quantidade, mas sobre duas pernas. Gentilezas, ou, a bem da verdade, obrigações, são raríssimas. Uma das avenidas mais movimentadas daqui, por exemplo, famosa pela concentração de hospitais e clínicas, está famosa também pelos atropelamentos de gente que acabou de sair de consulta - em geral, idosos e mulheres com crianças. 'Paciente', esse pessoal buzina - não, não tem placa dizendo que é área hospitalar - e aproveita ass lombadas pra acelerar, pedindo pressa. Coisa boa, essa lombada.

Hoje, distante dali, enquanto contornava uma rotatória - e não é possível que essa regra já tenha mudado, pensei -, o sujeito da outra mão entrou com tudo, sem sequer olhar pro lado; braço de fora. Diante da reação, deve ter elogiado bastante toda a geração de progenitoras da família, mas fiquei intrigada com a cara dele, algo na linha: "o quêêêêêê, uma mulher reclamando? Se toca!", pra ser sôper fiel às expressões coloquiais. hehe. Dois dedos nos olhos, dois dedos pra ele, se liga, malandro. Es nosotro en DVD. Ali também não tinha placa de área hospitalar...

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"Tava com 1800, agora, 4000 leucócitos. Vai dar."
Antes do dia acabar -porque o meu só acaba quando aciono os três despertadores -, uma expressão começa uma série nova que, ainda que eu desconheça por ora o nome, desfaz boa parte daquela penumbra da série velha. Oh, God, obrigada.
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Sometimes - My Bloody Valentine

26.7.09

o quê?

Andávamos, e eu procurava aquele doce que não sabia bem qual era, mas que era importante. De repente, naquele mercado enorme, as prateleiras surgiam complemente vazias, com o branco do metal à mostra e uma interrogação, misturada a agonia, se formando pelo ponteiro do relógio correndo contra mim - a caixa me esperava, você olhava pra minha cara com jeito de "não sei o que é isso", e eu desisti de procurar.

Curioso é que tive de pagar a conta pra moça do caixa.
Faz todo o sentido.

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Parece simples colocar na categoria de "artefatos inexistentes" aquilo que se quer deixar pra trás. Se fosse assim, não haveria tantas clínicas de terapia por aí, e tanta gente mal resolvida mundo afora. A prateleira pode até estar vazia, mas nem por isso o mercado deixa de existir.

E há artigo suficiente pra se buscar, além daquele doce que, nossa, existiu e foi bom. E ponto.

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Tenho aprendido a encarar certas situações da vida sob um outro ângulo, não sei se equivocado ou não - o tempo vai dizer; as novas experiências, consolidá-lo ou não. Parei de me fazer perguntas, porque seriam muitas respostas não encontradas, muita revolta reprimida a me fazer mal, ou muita lágrima chata a me perturbar o sono. Ou melhor: passei a fazer outras perguntas, essas, sim, com um sentido pra existirem e se desdobrarem em respostas que vão me trazer algo bom.

Grosso modo, é como andar na feira, domingo de manhã, sentindo todos os aromas, sem me preocupar com o porquê de aquelas pessoas andarem devagar, quase parando, enquanto outras querem passar, e sem dar a mínima do porquê de minha mesa ter de ficar bela com o ramalhete que estou levando dessa vez. Eu a quero assim, e constatar isso, depois de tanto tempo, não apaga nada, nada - eu não seria tão imatura de passar um errorex na vida -, mas é um baita alívio.

[Pisar no ramalhete antigo não faz do novo mais atraente, não no meu caso]

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Un dernier verre (Pour la Route) - Beirut

22.7.09

mouse pad

Quem me conhece sabe que noção de localização não é lá meu forte. Dizem que, por questões biológicas, isso é algo que acomete a mulherada de uma forma geral, mas conheço muita gente sem pipi que se vira muito bem quando a pergunta do auto-lead é o 'onde?'. Enfim.

Numa passada de três dias pelo Rio de Janeiro, na última vez que fui pra lá, eu e uma amiga demos umas três voltas no Leblon até descobrirmos que o trecho percorrido era o mesmo do início - nas três vezes. No ano seguinte, sozinha, no Ibirapuera, cheguei a ter uma nesga de credulidade na existência de dois obeliscos, mas a ficha caiu. Debaixo de muito sol, longos minutos depois, mas caiu: consegui me perder lá também.

Celular esquecido, hoje, e resgate noturno com toques de "vamos ver no que dá essa merda". Mudei completamente o trajeto e fui parar num local ermo, sem uma viva alma a me dizer que pedaço de Londrina era aquele. Num botequim vários quarteirões adiante onde garotos bebiam, a resposta: "Só subir à esquerda e virar à esquerda de novo, tudavida". Continuei andando sem saber onde ia dar (impressão, ou o breu aumenta quando se está perdido?), mas, gozado, sem receio. Sabia que mesmo que demorasse, ia me safar daquela bobagem a tempo, ao menos, de a luz da reserva não piscar.

(Sensação tão diferente daquela dos 5 anos, quando me perdia no supermercado. Achava que nunca mais ia passar.)

Como no Rio, o desvio de rota de hoje acabou me deixando somente algumas quadras adiante do local de onde eu nunca havia saído, mas que achava ter atravessado duas zonas distintas da cidade. Rodar, rodar, e cair no mesmo local. Isso soaria familiar, não fosse a leveza que a vida vai trazendo, aos pouquinhos, daquela ideia de que uma hora a rua certa pra virar à esquerda, ou à direita, vai aparecer diante dos olhos, caso não se estaque no meio do caminho. E o breu vai ser só mais um traço nebuloso de imaginação, cenográfico, quando se olha para quanta luz há em volta.
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Preciso de resistência nova. Eu, não: meu chuveiro.
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As prateleiras do sonho estavam vazias, completamente vazias.
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As horas de sono são tão importantes quanto uma resistência nova pra (ahá) "GorDucha". Assim, é só isso que quero agora em uma das prateleiras. Pras demais, eu vou pra outra pergunta do lead.

21.7.09

por exemplos

O dom com as mãos, herdado de gerações, mostra a ela que ainda há muito por fazer. Muito a que se agarrar. Muito a ofertar, porque há quem o receba. E nada no mundo pode apagar isso da memória, que é passado, mas também presente.

Minha mãe é uma mulher de fibra, e, se tenho muito ainda a aprender pelos anos da vida afora (30? 51? Menos ou mais de 100? Não importa), cara nas portas ou flores às mãos, creio que essa lição já aprendi. Venho aprendendo, desde que me entendo por gente . 'O vento pode até nos vergar, mas quebrar, não', insiste ela comigo. Eu tento, mãe - enquanto, do seu lado, sei que não desiste de mim.

E o mais bonito disso tudo é que aprendemos juntas, não importa os perrengues que uma ou outra estejam passando, ou tenham passado. Esse amor é eterno. E ao contrário do que o mundo tenta ensinar, dura ainda que o caminho seja espinhoso. Talvez por isso valha o nome.

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16.7.09

porque viver é sobre

Na mesa da frente, a família reunida em torno do jantar - as crianças puxaram à mãe, facilmente se percebe - me enche de dúvidas. Outras.
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Na cadeira da frente, palavras que me dissolvem certezas e me ajudam a transformar nós em pedaços rasgados de respostas, colados pequenininhos, até se formarem pequenas teias, quiçá retalhos, de um tecido com o qual quero me familiarizar.
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No trânsito, uns seguem sozinhos, outros embalados por cafunés. Sinto os olhos pesarem, mas não são as luzes depois de tantas horas ao computador: é um casal de vovozinhos tentando, a todo custo, empilhar as últimas peças de lixo reciclável na carriola que seria puxada (imagino) ainda por um bom tanto. Por um instante penso no quão relativas podem ser a solidão e o contrário dela.
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Precisar de cuidado nem sempre é o que parece. As formas de manifestação, por vezes, são tão (ou mais) importantes quanto o cuidado em si. Os olhos e ouvidos treinam pra que o coração não se engane. O coração treina pra não tropeçar em tanta buraqueira dessa vida, tampouco pra preencher essas frestas com betume: basta desviar das lacunas, enormes.
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Comprei meias de algodão pra minha mãe. Várias delas. Brancas, mas com um filetezinho de cor - uma diferente pra cada um dos oito pares. Peguei pra ver se eram felpudas de verdade ou felpudas inimigas da máquina de lavar; não era esse o caso. "É pra sua filha?", me perguntou a vendedora que teve de conferir o código de barras com outras meias, do tipo soquete (não eram aquelas que eu queria, muito superficiais pro frio). Respondi com um "não" encabulado, mas que me deu uma pontinha de calor humano por saber que "eu" sou a filha e que aquele não era fim, mas meio. Meio, não: eu diria que era uma das formas daquela manifestação tão abstrata, e, ao mesmo tempo, tão real ao coração. Na trilha certa, então, com sorte as lacunas passam bem ao longe.
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3 times and you lose - Travis

13.7.09

break

Planos de reativação minados por mais uma daquelas crises maravilhosas de enxaqueca que derrubam e fazem a gente pensar nas saudades dessa vida tosca.

Hoje me deu uma saudade sem tamanho da minha mãe. Saudades também de um tempo que passou, mas que custa a ter feridas cicatrizadas. Saudade de mim.

Londrina, 15 graus. Sensação térmica de 3, negativos.

11.7.09

sábado de chuva, chuva, chuva

Pensando em reativar isso aqui.
Tô reativando minha vida, por que não também o blog?