19.2.11

o sepapeficoa e eu

Quando se pensa ter noção do quanto ainda se pode viver - ou sonhar viver - a vida adiante, algumas emoções parecem ser eternas. E esses verbos de ligação, vou te dizer uma coisa, são uns danados.

O eterno coração na garganta ante cheiro, semblante parecido ou a lembrança mais forte de pessoas ou situações marcantes.

O eterno sentimento do sublime que se almeje eterno. A eterna busca pela simplicidade, cumplicidade, partilha, sem que isso resvale pro lugar-comum da esquálida rotina.

A eterna saudade. E a eterna vontade de esquecer que reforça, não entendi bem ainda, eternidade ou saudade. Dúvida eterna?

Aí você se lembra do tempo, verdadeiro senhor do eterno, e descobre - naturalmente - que o coração não é assim tão irracionalmente tolo na proporcionalidade: deixa de bater naquela estaca de desconforto temporário. Substitui, enfim, as reticências pelos pontos finais.

E então você olha pra mesa ao lado, vê passado e presente naqueles segundos-chave e nota os verbos que os ligam, sem adjetivos. Foram. São. E nem por isso a noção de que se tem muito ainda a viver - ou sonhar viver - a vida acabou: é que o caminho pode ser uma belezinha também na temporalidade indefinida.

Um alívio hoje, tanto (e bota tanto) tempo depois, ter indícios dessa certeza.
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you and I - wilco

15.2.11

o livro das perguntas

Semana passada eu assistia ao telejornal preferido quando, súbito, entraram as imagens do incêndio colorido que deixou tanta gente chorosa; outros tantos, inseguros: qual seria a dimensão de tudo aquilo? Haveria o festerê do carnaval carioca?

E então na semana passada eu me assustei (sim, não me desabituei a) com tanta gente caçoando, ironizando a situação daquelas comunidades que passaram meses trabalhando - muitos, em situação mesmo de emprego formal - pra perder, puxa vida, meros "bens materiais". Afinal, diferentemente dos que perderam as 900 vidas (número ainda não fechado) na região da serra fluminense, que era mesmo perder os frutos que objetivavam, numa análise rasa, uma... festa?

Quantas vidas foram resgatadas de escombros diferentes de lamaçais num trabalho desse, de comum-unidade? Não ouvi essa pergunta. Aliás, não ouvi essa pergunta dos mesmos que pregam - que coisa, menino - a solidariedade com o próximo. Solidariedade com aquilo com que eu simpatize, é isso? Não, obrigada. Essa, eu passo.
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"Em que lugar você coloca as pessoas na sua vida? Suas palavras as ajudam a se erguer, ou, encontrando-as feridas, ajudam a marcá-las um pouco mais?"

Essa pergunta ontem deixou tanta gente de cabeça baixa, semblante pensativo, olhares mudos, que não é difícil entender que o caminho, dentro e fora, é longo demais, espesso demais - espesso como lama. E tirar o iceberg resistente a esse meio requer mais que simpatia à própria ideia: requer respeito.

De repente, é como se eu quisesse um mundo feito de Lego. Não vai ter, né? Mas eu posso não subutilizar as minhas peças, não posso? Ah, posso.
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I'll try anything once - The Strokes