29.10.14

Escuto aquela música, tão nova e já tão parte da minha vida, e lembro das flores em contraste com o céu megalomaniacamente azul do Rio. São flores cor de rosa, não exatamente ipês, mas não sei o nome delas, desculpe.

Adornam as copas das árvores (como eu gosto de árvores, meu Deus), tiram a seriedade dos prédios e sorriem -- qualquer que seja a ruga de preocupação, desafio o sujeito a não desfazer ao menos uma delas diante dessa que considero uma pequena ou enorme epifania, à sua escolha.

Logo vêm as imagens de pôr-do-sol colecionadas não ao largo dos últimos 21 dias, mas de uma vida -- algumas tomadas mentais são mesmo inesquecíveis. Abro uma exceção pra lua maravilhosa indicada pelo taxista, extasiado pela beleza da cidade dele e por outro contraste: o da bola gigante com o Cristo iluminado.

Escuto aquela música, tão nova e já definitivamente tão parte da minha vida, e lembro das nuvens sob as asas do avião -- foram tantas e tantos esses dias, perdi a conta, mas é como se uma fase importante da vida finalmente tivesse chegado. Costas cansadas (quantas horas de sono são necessárias, afinal?), olhos desanuviados: um dia percebi essas nuvens como algo que simplesmente encobrem o sol, mudam a perspectiva por um instante, mas exigem paciência do caboclo para que, uma vez dispersas, ele consiga finalmente vislumbrar novamente a bola maravilhosa de luz que paira sobre sua cabeça.

Carrego essa metáfora há um tempo.

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