16.7.09

porque viver é sobre

Na mesa da frente, a família reunida em torno do jantar - as crianças puxaram à mãe, facilmente se percebe - me enche de dúvidas. Outras.
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Na cadeira da frente, palavras que me dissolvem certezas e me ajudam a transformar nós em pedaços rasgados de respostas, colados pequenininhos, até se formarem pequenas teias, quiçá retalhos, de um tecido com o qual quero me familiarizar.
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No trânsito, uns seguem sozinhos, outros embalados por cafunés. Sinto os olhos pesarem, mas não são as luzes depois de tantas horas ao computador: é um casal de vovozinhos tentando, a todo custo, empilhar as últimas peças de lixo reciclável na carriola que seria puxada (imagino) ainda por um bom tanto. Por um instante penso no quão relativas podem ser a solidão e o contrário dela.
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Precisar de cuidado nem sempre é o que parece. As formas de manifestação, por vezes, são tão (ou mais) importantes quanto o cuidado em si. Os olhos e ouvidos treinam pra que o coração não se engane. O coração treina pra não tropeçar em tanta buraqueira dessa vida, tampouco pra preencher essas frestas com betume: basta desviar das lacunas, enormes.
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Comprei meias de algodão pra minha mãe. Várias delas. Brancas, mas com um filetezinho de cor - uma diferente pra cada um dos oito pares. Peguei pra ver se eram felpudas de verdade ou felpudas inimigas da máquina de lavar; não era esse o caso. "É pra sua filha?", me perguntou a vendedora que teve de conferir o código de barras com outras meias, do tipo soquete (não eram aquelas que eu queria, muito superficiais pro frio). Respondi com um "não" encabulado, mas que me deu uma pontinha de calor humano por saber que "eu" sou a filha e que aquele não era fim, mas meio. Meio, não: eu diria que era uma das formas daquela manifestação tão abstrata, e, ao mesmo tempo, tão real ao coração. Na trilha certa, então, com sorte as lacunas passam bem ao longe.
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3 times and you lose - Travis

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