6.2.03

Jogue a moedinha e faça seu pedido, por tempo limitado

Hoje eu queria não me preocupar com coisas tolas. Queria ser três, queria mais cinco horas de sono, queria que arrumassem minha cama e me fizessem dormir. E não só aos sábados.

Queria abraçar minha mãe, me despedir de meu irmão, me aconselhar com meu avô, com a sabedoria e o carinho dele. Queria olhar a minha rotina esvaindo um bocado das forças e agradecer por ainda ter uma, já que “a vida é tão difícil”.

Queria ouvir uma música que não me trouxesse recordações de um tempo que, sabemos, não voltará. “Recordar é viver”; não queria que fosse sempre assim.

Agora eu queria a cabeça livre de obrigações. Queria poder jogar conversa fora até tarde, sem remorsos, queria ver aquele show que esperava há tanto no Valentino. Quantas homenagens a Elis eu perdi, só este ano... O domingo é dos Beatles; o meu, do bendito computador.

Eu não queria que existissem aquelas bolinhas de fisioterapia, nem que existissem as dores para serem aplacadas com elas. Meus dedos dóem como nunca, e ainda é tão cedo...

Não queria que a faxineira achasse “um luxo” poder comer ovo frito todo dia – o corpo humano precisa de proteína animal, cara que só. Também não queria ver catadores de papel empurrando seus carrinhos com o peito, debaixo de chuva. Isso é pior que a dor nos dedos e na munheca, minha anunciada LER, prazer.

Queria ver mais as palavras de gente querida, queria ter tempo e motivação para responder às cartas queridas. Uou, amo vocês, paulistinhas dumafiga.

Enquanto os meus desejos não se realizam, eu tento viver à espera de que o amanhã chegue logo. “É preciso viver o presente”, eu sei. Lair Ribeiro, Paulo Coelho, Roberto Shiniashik e seus comparsas também sabem, você me diria. Mas um sentimento quase perene de cansaço me quer logo os dias de março, de abril, e eu o respeito.

*

Se Deus ajudar (porque, nisso, os homens de pouco me adiantariam, tamanha inglória da tarefa), termino hoje de fazer a coisa mais boçal, nojenta, cretina e besta * que poderia alguém ter inventado, depois do trabalho na segunda-feira de manhã.

*Besta
(de carga)
1. Animal empregado no transporte de fardos ou de outras cargas

. . . . . .

Jamais sentirei saudades de decupagens novamente, jamais!
(meus entrevistados que me perdoem, gentes fina!)

*
random: Killing me softly – The Fugees



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