17.5.03

“L’essentiel est invisible pour les yeux”
Agora imagine o estrago sem a capa da invisibilidade



“O que os olhos não vêem, o coração não sente”. Já lhe tentaram fazer acreditar na máxima? Você mesmo já se pegou com a cabeça em afirmativa quando pensou na tal, relacionando a alguma, digamos, situação por que tenha passado?

Garota impressionável que sempre fui (oh, garota, minina, mocinha, cuti-cuti, não cresces?), confesso que ene vezes tentei engolir essa suposta verdade, seja pra me enganar, seja pra me convencer de que, pôxa, às vezes é preciso dar o braço a torcer. Será que “a unanimidade é burra”, como disse o seu Nélson? E a todo momento? Pois bem, questionei tanto isso que consegui me tornar uma pessoa flexível; flexível até demais. A ponto de me calar quando, lá dentro, a língua se segurava pra não soltar aquele “escuta aqui” que tantas vezes me fez a fama de escorpiana típica. Não que eu goste de engolir sapos, acho que o ser mais masoquista desse mundo uma hora se enfesa disso. Caramba, né?

Mas por que a vida teima em colocar de novo à nossa frente aquilo que o coração, tadinho, se esforçou tanto pra esconder nas memórias mais remotas e aliviar, com isso, a sua barra? A sua e a dele, claro, que ele não faria esse esforço em todo em prol da razão, essa marcona.

Nem sei por que estou falando isso tudo. E eu nem comecei meu livro ainda, pra sorte daqueles “imortais”. Te cuida, Paulinho da Páscoa.

O fato é que, a exemplo de tantas atitudes nossas de cada dia, os sentimentos, esses canalhas, podem se revelar representantes-mor de uma incoerência absurda. “Amar, desamar, amar” não é aquela pieguice entrecortada por fúteis e efêmeros clímax que um Manoel Carlos da vida tenta provar serem tão simples, tão comuns. É uma tarefa pra poucos, mas privilegiados. E mais privilegiados ainda aqueles que saem inteiros da missão, com um sorriso no rosto, depois de completados todos os passos desse processo tão perigoso a gente despreparada, ingênua e segura demais de si, de suas convicções – e da irredutibilidade delas.

Eu poderia ser mais clara, objetiva, sucinta – afinal, essa é minha obrigação de domingo a domingo, com pausa aos sábados, porque (ainda) sou filha de Deus. Só que, como bem me observaram alguns professores, e mesmo a prática, nem sempre um lead é completo. E, se o é, juntar todas as respostas num único parágrafo não é necessariamente uma regra. Se eu decifrasse melhor aquilo que meu coração sente, depois de os olhos serem poupados por tanto tempo, acho que seria menos leviana com as palavras, ou menos enrolona. Pelo menos eu tentaria, porque a capacidade de compreender e ser compreendido é algo que não faz mal a ninguém. E eitcha bagulhinho mais foda nessa vidinha cadela, ô.

Sabe aquela história de que a gente tem que estar sempre em busca de melhorar, de descobrir, de se desdobrar pra revelar todas as facetas possíveis e imagináveis que podemos ter? Então, acho que cansei dessa idéia. Não sei quanto ao seu, mas o meu coração pede arrego.

Jesus, what a mess.

*

Eu amo o teatro com um amor diferente daquele que eu nutro pela música, mas tão intenso quanto. Provavelmente porque me desperta emoções bastante opostas, como a admiração ou a total e completa antipatia. Ou falta de sensibilidade artística, sei lá. E despertar isso que se faz invisível aos olhos, mas essencial ao coração, traz efeitos colaterais dos mais variados. Isso aqui tudo é prova de que o referido é verdade, e dou fé.

*

random: Shine on You Crazy Diamond – Pink Floyd
Yeah, sir, admiração a esses velhotes idem-ibidem.



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