31.10.02

Mais um pouquinho. Cem anos não se comemoram em cinco minutos...

M u n d o g r a n d e

Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.

Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele estale.

Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma, não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos ¿ voltarão?

Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)

Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.

Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
Ó vida futura! Nós te criaremos.

Drummond



M e m ó r i a

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

(Carlos Drummond de Andrade)


......................................................

Hoje o poeta faria 100 anos.
Parabéns, Drummond. Esse poema seu transcrito foi o primeiro e único que saberia dizer, de cor, a alguém muito especial.

Lembro-me com perfeição do dia em que o li pela primeira vez, numa aula de interpretação de textos, em meu distante colegial. A idade nem me pesa, mas as sensações dessa época quase que se apagaram frente a tantas novas descobertas por esta terra vermelha.

Quando li Memória, soube que guardaria para sempre as palavras do poeta em um recanto até agora inabitado. Depois li outro, e mais outro, e hoje tento levar a meus alunos aquilo que eu recebi como um presente de minha professora. Não tinha como ler Drummond por obrigação...mas, se tivesse, que prazer em mandar o ócio às favas!

Não sei se são de minha geração aqueles cadernos com perguntas, que passávamos entre os amigos para saber seus gostos pessoais. Lembro sempre de duas delas: a “Deixe uma mensagem para mim!”, porque sempre alguém escorregava na zoação e/ou no sentimentalismo adolescente (lembram-se de “S.A.L.A.D.A.”?!), e a “Qual é o seu ídolo?”. Pra essa última eu nunca tinha uma resposta. Não entendia como amigas minhas escolhiam John Lennon, muitas vezes não sabendo que os Beatles eram astros do rock, ou Jesus Cristo, amaldiçoando as tardes de sábado “perdidas” no cartecismo e, mais tarde, no crisma.

Mantenho minha posição, passados mais de dez anos. Não cultivo a idolatria, tento me manter longe de quem cultiva. Acho que é um passo certeiro para o radicalismo. Mas admiro muito Drummond, com sua simplicidade mineira e suas palavras, de reflexão profunda, numa época em que tantos perdiam as esperanças na humanidade.

Acima de tudo, Drummond era um otimista. Acreditava na raça humana, com todos os seus Hitlers, Stalins e Auwschitz em voga. E, ainda hoje, é capaz de enternecer até mesmo aquele que se diz o menos entendedor de poemas. Drummond nos trouxe a poesia, meus caros, deixemos as classificações formais para os parnasianos de plantão.

Obrigada, Drummond. Nunca troquei uma palavra falada com você, mas ouvi muitas, e que fizeram pequenas-grandes transformações em um espírito pouco animado com a raça em que você tanto confiava. Uma pedra já saiu, poeta, os pedregulhos e a areia, contudo, são tarefa pra vida inteira.


28.10.02

Café!

Que preguiça...: @
Sabe aqueles dias em que as únicas forças que movem o ser humano são as usadas pra subir o lençol na cama ou apertar o controle remoto?

Jesusmariajosé, acho que os problemas de veia se acirram. Alguém tem ginka biloba?

.........................................................................

Essas eleições não vão mesmo se apagar da minha memória tão cedo. Não só pela onda de sentimentos contraditórios que eu tive depois do resultado (num momento mais coffee eu escrevo sobre), mas pelos malditos 2,7 pontos percentuais mais longos da minha vida.

De verdade, nunca vi uma apuração empacar tanto por uma percentagem tão chinfrin...Quatro da manhã, já mais no mundo de Netuno que neste, não agüentei e dei o sagrado Alt F4 no que ainda restava aberto. Consciência pesada (tinha que dar os últimos resultados), mas os olhos pesavam mais ainda. Looser.

Hoje no almoço (depois do “bom dia” via telefone pra tia q respondeu “boa tarde” => uia, mau sinal), vejo o noticiário com a repórter dizendo: “Até agora, 99.98% das urnas foram apuradas(...)”.

*Suspiro*



27.10.02

Alô, alô, TRE!

Odeio sair de casa com blusa de frio, aquela blusa tosca por baixo e, de repente, o clima esquenta. Senso de homeotermia zero.

Abomino sentir fome e (como Murphy existe), do nada, subir aquele cheiro de bife espatifando seu nariz. Você pode até achar o prato meio carne-de-vaca, mas, pasme: nos momentos de terror, ele parecerá o prato mais suculento da sua emocionante vida.

Filadaputice mesmo é ouvir numa rádio pé vermeio: "Uma ouvinte nos pergunta se anular o voto no segundo turno e no primeiro traz algum problema com a Justiça Eleitoral. Não, mas o recomendável (?!) é não votar nem em branco, nem nulo. Aliás, nós recomendamos isso: não é o procedimento mais correto" (ponto final)

*

Não é o povo que é desmemoriado. É a imprensa suja que se encarrega da 'limpeza' em suas cabecinhas vulneráveis . Odeio vocês, imprensa suja. Mais que os santinhos que i(m)nundam nossas calçadas.
NE: aff......

*

Por isso que eu quero um chalé na praia, água de coco e aqueles livros que eu não ouso terminar de ler há um bom tempo.


Ó supremos senhores Cayô, leitores deste pequeno bloco:

* Por motivo de força maior, a título de incompreensão ou ingnorância enquanto ser humano (a minha pessoa humana, diga-se de passagem), este ser suprimiu os antigos comments. Não, não havia pornografia neles ou seus congêneres de bobagem. Este é um blog cristão (...).
Sem nada esclarecer, porquanto, agradecemos (mais uma vez) a ajuda de inestimável valia do bloco amigo Misto Quente, por seus préstimos em recuperar ferramenta do tão sagrado feedback. Amém.



Bom dinha

O que fazer num domingo de manhã, sol e uma leve ressaca?
Trabalhar, oras. "O trabalho dignifica o homem", bem dizia o filósofo anonymus.
Se bem que não seria má essa idéia aqui, não...
Vamos lá.


26.10.02

Sábados à tarde podem ser tão - ou mais - deprimentes que os domingos sem família.
Conselho deste Bloquinho: Deus ajuda quem cedo madruga. Assim seja.

.........................................................................

Será o início do movimento bloguístico-migratório?

Acabo de descobrir que, pelo Blogger.com.br, dá para inserir figuras sem muita complicação na cabeça de quem (em definitivo) não manja patavina de HTML. Será o fim do bloquinho.blogspot???

Sem mais por esta tarde que promete (faxina), nossos mais sinceros desejos de uma estupenda festa da democracia amanhã.

J a n a b o c a d e u r n a

92 >> Castro Alves>> ::CONFIRMA ::
99 >> Machado de Assis >> ::CONFIRMA ::

Mas atenção: caso você não ouça um pequeno trecho de Il Guarani, antes de digitar a tecla verde, dê backspace e repita o processo. Algo deve ter dado errado.Não se esqueça de que você tem todo o tempo do mundo para votar, vá relaxado. Chupe uma bala. Tente apenas não se lembrar muito das qualidades de seus candidatos.




25.10.02

guerapãã....

Queria escrever algo sobre o debate dos candidatos ao governo paranaense, realizado nesta quinta-feira, na Rede Paranaense. Percebi que o texto (despretensioso, queria uma simples crônica) estava muito pronto na minha cabeça. Só faltou o lead, argh.

Só fico impressionada de assistir a algo tão infantil pra circunstância tão séria. Mesmo. Debates podem ser cômicos, ainda mais se os participantes, volta e meia, recorrem à retórica sentimentalóide na gana de obter a simpatia das marionetes. Ops, dos eleitores indecisos. Tá.

*

Tenho uma professora que, em meia dúzia de opiniões, tinha algumas que se salvavam. Uma delas: “Quando vocês perceberem que o texto vem muito pronto para ser escrito, desconfiem”. Valeu, teacher, poupou-me horas a menos na net e sagradas horinhas de sono. Melhor que isso, só ouvir Catedral (“tuuuudo de ruim”; homenagem às aluninhas do Cesa) no rádio pra desanimar de vez e fazer um convite indecente pra cama. Bem-feito, mané.


23.10.02

I w i l l s u r v i v e - pelo menos até o fim de semana

Como venta em Londrina.
Tardes quentes e abafadas, a sensação de frescor do banho gelado dura pouco - o tempo de os cabelos secarem.
(nessas horas eu tento conversar com a rinite mimada e ludibriá-la para que tenhamos um circulador, massss....)
Anoiteceu, meu quarto fica impossível (portas batendo, papéis voando, etc). Quem mandou morar em andar alto? Bah

*

Guardo uma relação meio estranha com sonhos, é verdade. Afinal, que esperar de alguém que sonha com a vaca transposta (sério, isso foi qdo aprendi matrizes, em matemática), ou com gorilas que, pra dormir, precisam receber um cigarro no nariz? Enfim, tem mais uma lista, mas o q resta de bom senso me impede de citar...

Domingo foi diferente. Eu sonhava com a padaria próxima à casa do meu vô e via o pudim que a mami comprava aos domingos. Nisso, me lembro de ter pensado em chamar a família, pra um almoço: eu levaria aquela sobremesa. Engraçado é q eu precisava muito falar com meu vovis.
** Toca o telefone **
(Era ele, precisando falar algo comigo, sem saber exatamente o quê. Uou.)

*

Agora tive outro sonho. Acordada mesmo, lembrei de uma época que, com todas as dificuldades, era tão mais doce que essa...Finzinho de infância, início e meio de adolescência (fim não, pq os hormônios já estavam infernais), aquela mesma turma no colégio deeeeesde o (pré-histórico) jardim. Era legal, sabíamos o aniversário de todos, todos os anos...aja ovo com café, festinhas na sala de aula, puxões de orelha pra contar cada ano ganho...ui. He.

Segunda foi aniversário de uma amigona minha; acho que a primeira da seleta lista que, por um descuido ou mera ingenuidade, qualifiquei de "melhor". Depois de um casamento feito pra sair da casa dos pais, hoje ela é divorciada, com uma filhinha linda, a Sara. Outra vida, outra pessoa. A Cody das artes infanto-juvenis (hehe) ficou guardada em algum lugar; talvez só eu saiba onde está a chave. Nas lembranças, suponho.

Amanhã, quinta, serão outros aniversários, de outros amigos. Amigos desde 1984, 85. Uma cara, pra quem já está terminando facul... Um deles, o baixinho da turma, faz o curso que mais repudiava: Direito. Outra, casou e também já é mãe. Fiquei assustada ao ouvir a notícia hoje... Os que não tiveram a chance de estudar fora se tornaram vendedores, professores, na mesma e pequena e monótona cidade. Será que a vida deles ou a minha que está "normal" demais?

*

Ouvi Pretenders e 4 non blondes. Pra ajudar. Humpf, um pouco de masoquismo pra saudade pode ser bom. Ajuda a remexer esse baú todo bagunçado que, às vezes, é a memória da gente...melhor se não fede a naftalina, claro.

*

Como venta em Londrina... Mas agora estou agasalhada, que bom.



22.10.02

Pobrema de veia

A propósito, caríssimos, eu quero participar do preenchimento dos 17% finais e, de preferência, sem dor no pescoço. Achava que era falta de sono, tals, mas descobri, em meu segundo dia de férias, que ela me adora. Este bloquinho é probi de recursos HTML (mais pela dona q pelo Blogger, diga-se de passagem), mas é humilde em aceitar sugestions. Any one?


C'est n'est pas fantastique?

Humanos já tomam conta de 83% do planeta Terra

Bem dizia o Chico Buarque, numa frase dele q eu gosto muito: “As pessoas têm medo das mudanças. Eu tenho medo de que as coisas não mudem”.

Só espero que, se essa onda de invasão humana realmente achar divertido continuar se alastrando, ainda sobrem uns percentuaizinhos pra eu poder ver meus netos, sobrinhos, uma cabeleira branca, quem sabe....(se não inventarem a evolução do Grecin 2000 Para Mulher, claro)


19.10.02

Uau, estou batendo meu recorde de desatualização: posts semanais. Será que no fim do meu tcc eles já se tornaram mensais?
Aff, que blog gagá.
F é r i a s, f i n a l m e n t e

Cansaço. Lesêra, de novo. Sono incorruptível. Não, não são sintomas delas, ainda não, mas da viagem a Sampa. O paraíso perdido dos caipiras que ainda se encantam com os prédios velhos, os prédios históricos e os super prédios, símbolos da urbanização capitalista.

*

Amo São Paulo. Só sinto por não entender as causas racionais desse sentimento, tão forte, que me bate quando penso nessa cidade ou quando passo pelas ruas caoticamente movimentadas dela.
Realmente, ser humano é ser incompreensível.

12.10.02

A f f

Por essa nem eu esperava.
Quatorze horas de sono. Novo recorde da Janaina.
E olha q a balada acabou cedo... No alcohol, puta olho inchado, puta dor de cabeça.
Por essa eu não esperava.

*

Feliz dia das crianças. Que todos rasguem o papel bonito do embrulho e chorem pelo desperdício.

*

O pior de se acordar (de)tarde num fim de semana não é aquela sensação odiosa de que metade do dia se foi e vc ficou naquela podrera o resto do tempo.

Chato meeemu é ligar a TV nessas horas, pra tentar entrar em contato com o mundo (oh, oh, oh, que ingênua) e ver a Xuxa derrota tentando se promover às custas de crianças com câncer. Wal. Isso fede.

Por isso quer eu vou entrar na Ordem das Irmãs Adoradoras da Santa Trufa de Maracujá. Quero que esses famosos falsos se explodam.

A propósito, eu também gostava do Xou da Xuxa. Mas cresci e fui picada pelo mosquito do simancol, a tempo.

10.10.02

Foca em chamas

Murphy não é um mero personagem do imaginário coletivo.
Não é.

*

Depois de percorrer longuíssimas quadras sob este calor cachorro, com sede, uma fila de banco me espera. Ruim? Sim,mas lembre-se Dele: há como piorar. Lembre-se da noite insone sob a leitura torridamente chata, do seu organismo, que já criou resistência feroz ao café forte, e da noite em claro que (novamente sem emoções) vem pela frente.

-Mas tia, ainda há como ficar mais feio?

-Sim, meu pequeno. No caminho para tomar o suco de acerola redentor, você se lembra que aquela conta, aquela mesmo, que dá desconto de 15 pilas SE PAGA ATÉ O DIA 10, vence hoje. E só pode ser debitada onde? Onde? Siiiiiiimmmmmm!!!!!!!!! NO BANCO!

*

- Gora cabô, né, tia? Tá tudo f* mesmo, seu dia tá aquela m*, tá tudo em paz!
- Oh, seres insensatos...Quanta ingenuidade adentra vossos corações, que prófugos que sois, oh oh oh...

A fila do banco vai até que rápida, mas TEM que parar num momento, né? Preciso dizer em quem isso acontece? Creio que não.
Uma escapadela rápida com o olhar busca a TV ali no alto. “Pelo menos ajuda a descontrair”, pensa nossa humilde (e candidamente estúpida) andarilha.

“Boa tarde. A TV Senado apresenta agora a entrevista com o ministro............”

*

Devo ter jogado suco de acerola quente e azedo na cruz, na última encarnação.


8.10.02

Ah, e pra não dizer q sou malagradecida, ficaqui o agradeCimento pela visita de um amigo que passou bem rapiDINHO. Brigada, moss.

Vamu chupá gelo?

Começo a pensar que o famoso (e mal educado, bambino) “Vá pro inferno”, aliás, não é tão grotesco assim.

Ainda mais se você morar em Londrina, em épocas REALMENTE quentes, ou fazer pequenas paradas no forno (digo, casa) dos pais.

.
Eu vou derreter.
(alguém tem um sorvete de longa duração aí?)