Teve aluno morto à frente da universidade, bem no centro. Teve três ônibus incendiados em menos de 48 horas. Tem a tragédia toda das famílias inteiramente desmanteladas, lá longe, todo dia martelando o noticiário com novos números. Tristes números.
Eu podia apenas saber que tem muita coisa nessa vida mais séria com o que se preocupar. E há. Mas hoje, alguns anos depois de percorrer aquele velho caminho, pela manhã, e parar naquele quiosque de 32 anos, praquele café (preto e tão bom), senti um desalento e um alívio. Desalento por ver um patrimônio histórico sendo destruído, aos poucos (até porque a coisa lá é lenta), travestido de modernidade. O novo calçadão é uma lástima, no sentido puro da palavra. Desmerece, sem querer, a maiúscula que já lhe fora conferida. Padece de identidade. As pedras coloridas que se esforçam pra copiar o desenho do mosaico preto e branco se perdem, sufocadas por tanta milimetrice austera.
O alívio vem por, 11 anos quase vividos aqui, por opção, sentir Londrina como a minha cidade. A primeira sensação doce foi justamente no Calçadão, à noite, em janeiro de 1999, extasiada com aquele cenário tão mediano e tão limpo, tão tradicionalesco (o outro ventrículo do meu coração, a parte paulista, também tem petit pavets) e tão jovem. Incrivelmente jovem. Com os anos a degradação muda o olhar, mas nunca o extermina na essência. E se destroem parte disso, uma parte da minha história, pequena história, vai junto com aquelas pedrinhas sem-vergonhas.
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Naquele filme de ontem, pequenos e enormes recados que servem pra pensar um caminhão de pedras com e sem encaixe. "Da próxima vez que olhar para trás, você deveria dar uma segunda olhada", diz a menina. De tanta coisa que tentou "atribuir significância cósmica a meros acontecimentos mortais", foi a pedrinha mais necessária que eu fiz questão de guardar no bolso.
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there goes the fear - doves
13.4.10
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Um comentário:
Porque não existe mais, daqui alguns anos, vai parecer mentira.
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