7.4.10

dorme, meu bem

O Saraiva - sim, o personagem - não era fictício. No dia a dia, ele fica adormecido, chega a tirar umas férias longas, mas está lá, piano, até que lhe cutuquem.
A moça chega no destino final, se dá conta de que a mochila com os pertences sumiu do compartimento que fica ao alto. Pertences simples como uma tese de doutorado que não é dela, claro (grifo nosso). Simples como a chave de casa, até hoje sem as partes de cima que um chaveiro lhe identificaria. Tudo isso na simplicidade da uma da manhã, com uma rodoviária simplesmente às moscas.
A moça pergunta já com um curta passando pela cabeça, ou com a novelinha, mesmo, que viria. Seo Cícero, o motorista, pensa alguns segundos e conta que a mochila ficou na cidadezinha que passou, uns 100 quilômetros atrás. "Desceram com ela por engano, mas tá guardadinha. Ah, só amanhã pra rever".
Seo Ene - a moça não fez questão de ver o nome - pergunta se ela viu a mochila descer. Seo Agá - a regra vale pro distinto também - quer saber se a moça (parece que dormiu dois terços do caminho; estranho, pra essa moça) viu "a pessoa descer com a mochila". Claro que ela viu: a bolsa usava adidas e saiu faceira, apesar da frente fria acolhedora. Ah, e óbvio que a moça (desatenta, essa moça) viu a tal mochila, calçadinha, sair de braços dados com o esperto que dormiu um pouco mais que essa moça. Que, afinal, esperou tudo isso só pra ter um momento de lazer na vida dela, à uma da manhã de uma terça-feira gelada, com Seo Ene e seo Agá.
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Pantoprazol pra essa moça, aliviadíssima.
(Torres Pastorinho tem discípulos londrinenses, certeza)
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Algumas respostas são mais aguardadas que aquela mochila de viagem. Por isso, me disse, a moça começou a tarde no superlativo daquela sensação. Esperas que levam anos e esperas de alguns dias (que parecem anos), sanadas com as respostas certas das pessoas certeiras, dão um comichão de que, ufalelê, saraiva dorme.
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a day in the life - beatles

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