Saudade imensa, Sebastião.
Hoje eu via uma reportagem
sobre algo que me lembrou das nossas conversas de domingo e, não teve jeito,
fui trabalhar com os olhos inchados.
Queria que esse espinho me
fosse mais imperceptível, vô. Ou que, ao menos, a saudade não fosse exatamente
uma coisa chata de doída. Não sei quem inventou que ela pode ser algo bom
–talvez, imagino, à medida em que se tem saudade apenas de quem amamos ou
queremos bem. Isso, pelo menos, faz todo o sentido.
“Olha só, o vô tava pensando
em você agora. Tá boa, fia?” Como não ter saudade disso, vô? Tem expressão de
carinho mais genuína, mais simples?
Como se preenchem esses
vazios? Como se lembrar disso só com um sorriso no rosto, sem denunciar que a
lembrança abarca, na realidade, outra sorte de sentimentos?
Acompanha minhas conquistas,
Sebastião? Vê meus apuros? Torce, reza, zela, compreende minhas inconstâncias
humanas? Ainda ilumina por onde passa?
Tanta pergunta, não, vô. É que tempo
é algo absolutamente relativo quando se ama (o senhor bem sabe).
*
Nalguns dias, crescer se faz
demais à revelia.
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