Eita mundão velho sem porteira. Porteira pras não-meias-palavras, bem entendido. Mundão de eufemismos que, no raso, no raso, não soam mais que fajutices da falta de coragem, de tato ou simplesmente do raio que o parta. Que me importa; só acho mesmo, de verdade, uma besteira só, usando também um eufemismo. Vamos a elas.
Por exemplo: o sujeito se julga "sincero demais" (ou pretende sê-lo, mas também não consegue). Não é sincero - é grosso, insensível à opinião ou ao sentimento alheio, o umbigo dele é o que importa. Resumindo: "sou foda e o mundo que se vire". Encaixa-se a expressão, ocasionalmente, no igualmente desprezível "o que eu tenho de falar, falo na cara". Adoro gente corajosa assim - esses costumam ser os primeiros a encontrar outros corajosos no caminho, com ou sem um espelhinho na mão.
"Não querendo me intrometer, mas já me intrometendo..." - claro que queria se intrometer. Se não, que sentido teria a sua vida, não é mesmo? Você vive dos restos que caem das histórias alheias. Quem sabe compõe a sua, desses retalhos, algum dia.
"Esses preços estão pra hora da morte" (que coisa antiga...) - então, pensando bem literalmente nas palavras, não reclame. Afinal, talvez você nem tenha de pagar por eles.
"Sou muito legal, mas quando pisam o meu calo..." - na verdade eu sou bacana quando convém. Quando você me sacanear, me encher o saco ou quando eu me enjoar de você, dou o chega-pra-lá e te mostro, de verdade, quem eu sou.
"Eu podia estar matando, eu podia estar roubando..." - mas estou fazendo algo de pouca ou nenhuma relevância a mim ou ao meu próximo, neste exato momento, a menos que esteja trabalhando pra pagar (por exemplo) o licenciamento obrigatório que o Detran, gentilmente, me lembrou esta semana.
"Menos é mais" - mentira. Se você ganhasse aquela Mega de R$ 90 e tantos milhões, não faria a caridade pseudo-reprimida desse eufemismo. Se ganhar e mudar de ideia, porém, já sabe. Levo você à agência BB do Calçadão em Londrina com a prontidão de um candidato numa comunidade carente e indecisa.
"Ei, como que você tá?" - não, seu tolo, não responda a sério. Foi só uma pergunta retórica. Poucos vão te perguntar isso fora desse contexto de intenções tão floreadas.
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Acho que tomei chá de realidade demais. Parei de usar açúcar faz tempo (minha saúde agradece a olhos vistos), mas não deixo que tornem o conteúdo do chá mais amargo do que possa ser (ou do que é, em ocasiões em que adoraria ter os eufemismos à mão). Afinal, gente sincera demais, legal até onde lhe convir e com ouvidos moucos e ombros frouxos pras respostas que não as suas próprias não me interessa.
Aí, sim, menos é mais.
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E viva a Primavera - como sempre digo, - minha estação favorita. Sem meias palavras, rica demais a carga simbólica dela.
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left and right in the dark - julian casablancas
21.9.10
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