24.5.10

a estrada

eu leio coisas que escrevi há oito, nove anos por aqui e me surpreendo com o quanto (ainda) é possível perceber mudanças que o tempo fez questão de provocar, desde então. constatei como eram verdadeiras algumas objeções sobre o futuro - o poema preferido do Drummond, do dia em que o poeta faria 100 anos, que o diga -, quantas dúvidas eu carregava, quantas eu dissipei e a quantas apenas dei novas roupagens, com novas personagens, cenários e densidades mais ou menos interessantes.

o quanto eu acreditei, desacreditei, voltei a crer e prossegui nos novelos ou nas retas. acho que nunca vai parar a procura curiosa do 'onde-vai-dar?' nessa misteriosa linha do tempo. aquela coisa de olhar no espelho e se ter a constatação de que, opa, que ser é aquele ali, mas transferida pras linhas que descrevem banalidades e angústias. descobertas com exclamações e pontos finais que carregam reticências ou que valem por si.
cada coisa.
-----------------------
no filme, o menino e seu pai tentam desviar dos perigos, rumo ao sul. encaram a tristeza de um cenário literalmente apocalíptico e protegem um ao outro. tão sublime esse senso de proteção, de zelo - será uma das várias faces do amor?

o menino não pode parar e precisa acreditar que, mesmo com tantos absurdos contra pessoas como ele e o pai, ainda há os "homens bons". é neles que o pai pede que acredite, é com eles que vai embora quando é preciso seguir o caminho. porque, pede o pai, ele precisa carregar a "fogueira interior" sem apagá-la. não à toa, ele faz questão de manter o filho sempre aquecido. acho que era a forma de manter acesa a fogueira dele, também.

o mundo interno e o externo podem ter metáforas surpreendentemente tocantes.
-----------------------
between the bars - elliott smith

2 comentários:

Anônimo disse...

É quase impossível crer que este blog é da mesma pessoas que exerce o jornalismo de forma tão vil e leviana.
Prefiro a Janaina blogueira e poética, espero que esta seja verdadeira, muito mais sadia e interessante, e aquela amarga, seja apenas a ficcional, da Folha.

janaog disse...

caro anônimo,
não é a jornalista que é amarga no que escreve - porque, diferente do blog, no jornal ela não pode colocar as palavras à mercê, pura e simples, de qualquer dose que seja de subjetividade. no jornal ela se reporta aos fatos, e, nos fatos, assim como na prosa 'poética' (não, não tenho esse dom), sempre há os que gostam e os que não gostam do que se é publicado.
estou numa profissão e numa função que não me amargura, pelo contrário.
o amargo pode pode vir de várias outras direções. de dentro, inclusive, o que não significa que contagia as outras partes da vida.
e nem sempre é fácil constatar isso - mas, sugiro, vale tentar.
um abraço.